Vila Bela da Santíssima Trindade volta a ser a capital de Mato Grosso
O PODER VOLTA À VILA, TÃO BELA QUANTO ANTES
Governador Pedro Taques durante os festejos do Congo
No domingo o governador Pedro Taques instala o governo na cidade que comemora 265 anos de resistência e forte expressão cultural
Os tambores e o canto africano já se manifestam com a volta da Capital de Mato Grosso para Vila Bela da Santíssima Trindade, no extremo oeste do Estado distante 550 quilômetros de Cuiabá. É que, no domingo (19), o governador Pedro Taques instala o governo na cidade que comemora 265 anos neste fim de semana.
Criada em 1752 - dois anos depois do Tratado de Madrid - pela Coroa Portuguesa para evitar o avanço dos espanhóis sobre as terras daquela região, o lugar nasceu como vila, bela e protegida pela Santíssima Trindade. Movido por uma fé inigualável, os vila-belenses não esmoreceram nem quando perderam para Cuiabá o posto de capital ainda no século XVIII. Conviveu com quilombos e soube agregar aventureiros brasileiros e bolivianos que chegavam para se somar à população descendente de africanos.
A cidade contava com planejamento urbano, muitos contos de réis no alforje dos donos das terras, ouro e belezas naturais como as cachoeiras do Jatobá e dos Namorados, além de um contingente enorme de homens, mulheres e crianças usadas na mão de obra escrava. Vila Bela só não contava com apoio dos políticos habilidosos que articularam a transferência da capital do Vale do Rio Guaporé para o Vale do Rio Cuiabá.
A volta da Capital para Vila Bela é simbólica, mas representa o resgate do poderio político que a região já representou. A disputa pela ocupação da fronteira oeste terminou em 1802 com os esforços do capitão-general Antonio Rolim de Moura Tavares. No entanto, há outras fronteiras a serem quebradas pelo governo. “Essas fronteiras são sociais e os desafios são tão grandes quanto os do século dezoito”, analisa o jornalista Onofre Ribeiro.
Nada disso foi obra do acaso. Quando a Rainha D. Mariana de Áustria nomeou Rolim de Moura em 25 de setembro de 1748 e, também criou a Capitania Geral de Mato Grosso, ela declarou em seu decreto que “a região era a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil”. Com uma população de pouco mais de 15 mil habitantes e uma densidade demográfica de 1,8 habitantes por quilômetro quadrado, o Governo do Estado também prospecta fomentar uma nova vocação econômica e o crescimento social da antiga capital. O turismo é a linha de frente, seguida da pecuária de corte e agricultura familiar.
No plano político, tanto o Governo do Estado quanto parlamentares estaduais e federais se articulam para impulsionar o desenvolvimento econômico e social da região. Dois gargalos fundamentais que se tornam desafios para a gestão são a saúde e a infraestrutura de transporte. No caso das rodovias, é uma situação que dificulta o trafego de pessoas, impactando na economia geral e diretamente no turismo de aventura e contemplação.
Os trabalhos do Executivo começam na sexta-feira (17) e se estendem até domingo acompanhado das tradicionais apresentações da dança do Congo e do Chorado. Uma sessão conjunta entre a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal dará início à agenda em comemoração ao aniversário de Vila Bela, também na sexta-feira, às 19h. Já no sábado (18), a comunidade poderá conferir uma exposição de telas de artistas locais e fotografias de José Medeiros no Palácio dos Capitães Generais, prédio histórico tombado pelo Estado, que passou por obras de manutenção e foi entregue à população vila-belense em 2016.
A partir das 19:30, em um cinema montado nos fundos das ruínas da antiga Igreja Matriz, serão exibidos documentários e curtas-metragens que retratam a cinematografia negra. A noite vai terminar com shows que acontecem a partir das 23h.
O domingo (19), dia de aniversário da cidade, começa com um cortejo do governador e autoridades acompanhados pelos dançarinos do Congo e do Chorado. Em seguida, será servido um chá afro no Palácio dos Capitães Generais, missa na Igreja Matriz e desfile cívico, seguido da cerimônia de transferência da capital mato-grossense. O dia termina com exibição de filmes e apresentações culturais, entre elas as danças do Congo e do Chorado, no Espaço Cultural do município.
Em pleno século XVIII Vila Bela nasceu planejada no sertão brasileiro
Vila Bela foi o centro do Poder de 1748 a 1835. Hoje, precisa de apenas três dias para mostrar que ainda reina. Como disse uma vez o morador Tito Profeta, “Vila Bela é tão forte quantos as ruínas da igreja que sobrevive ao tempo. Nossas expressões culturais são tão emblemáticas quanto as marcas deixadas pelo chicote no lombo de nossos ancestrais. Somos dignos de horar esse passado glorioso e sábios para enxergar o futuro que jamais nos excluirá da história”.
Tradição
Tito Profeta foi um dos maiores defensores da cultura local e teve na dança do Congo uma das razões para viver mais de 80 anos. No Congo, reis e embaixadores travam uma luta dramatizada em que dois reinados africanos disputam o poder. Os homens tocam os instrumentos e as mulheres representam as rainhas, que trajam vestidos longos e levam o estandarte com os santos de louvor: São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
Os personagens do reinado do Congo são o Rei, o Príncipe e o Secretário de Guerra; do reino adversário aparecem o Embaixador e soldados. A nobreza usa mantos, coroas e bastões coloridos e ornamentados com flores como instrumentos.
Em Mato Grosso, a dança surgiu com a vinda de escravos e manifesta a resistência dos negros que ficaram no município, mesmo com a transferência da Capital para Cuiabá.
A dança do Chorado também surgiu no período colonial e leva esse nome porque representa o choro dos negros escravos para que seus senhores perdoassem os castigos impostos aos transgressores. As mulheres dançam equilibrando garrafas de canjinjim na cabeça para pedir a liberdade aos seus familiares. O ritmo da música é afro, com marcações em palmas, mesa, banco ou tambor.
Fonte: Portal Mato Grosso.
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